Saturno

8 de dez. de 2008












Ele não tinha dúvidas, estava desenvelhecendo. Suas rugas diminuíam a cada dia, seus cabelos retomavam a cor original, sentia-se mais forte e saudável. Cada dia que passava, ele se tornava mais jovem, enquanto os membros de sua família continuavam envelhecendo. Um horizonte de possibilidades abriu-se diante dele. Ele seria jovem novamente, jovem e experiente. Ele já sonhava com a fortuna que poderia fazer, com as noites de diversão cheias de entusiasmo juvenil. O tempo estava ao seu lado.
Porém, sua família começou a se preocupar. O que seria dele quando todos eles morressem? Se continuasse a rejuvenescer onde ele iria parar? O novo jovem irritou-se. Estavam com inveja de sua situação, tinham medo que ele dominasse tudo o que a juventude lhe oferecia. Ele devoraria os próprios filhos se precisasse. E foi isso o que ele fez, matou-os um a um: filhos, esposa, pai e mãe. Apossou-se de todos os bens da família e viajou pelo mundo, curtindo sua juventude retroativa. Era um jovem lindo, exuberante. Encheu-se de anéis para adornar seu esplendor. Porém, suas relações eram efêmeras, pois seu corpo não condizia com seus pensamentos.
O tempo estava contra ele. Ele se tornava cada vez mais jovem em menos tempo. Rejuvenescia anos em semanas, desesperou-se. Era um menino sem ninguém, um velho preso ao corpo de uma criança. Todos que conhecera durante sua vida haviam envelhecido ou morrido. Os intervalos entre as fases foram diminuindo cada vez mais. Em apenas um dia, ele passou de criança a bebê, transformou-se em feto, dividiu-se em óvulo e espermatozóide e desapareceu para sempre da existência.
OS PLANETAS

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