
WASLEY VIANA
Havia uma estrada muito deteriorada e velha. Automóveis iam e vinham em alta velocidade, ziguezagueando, tentando evitar os buracos que se encontravam no caminho.
Um homem de terno e gravata, segurando uma maleta preta, parou no acostamento. Olhando para os lados, ele viu que a vários metros à frente havia uma passarela em ótimo estado cruzando a estrada. O homem franziu os sobrolhos e disse: - A passarela está muito longe e eu estou muito atrasado. Vou passar pela estrada, resolveu ele.
Um velho mendigo que passava pelo acostamento percebeu a intenção do desconhecido e , aproximando-se dele, tentou impedir. - Por que você não vai pela passarela? Perguntou o velho. - Porque ela está muito longe e estou atrasado. Indo pela estrada, corto a volta e vou direto, chegando assim, mais rápido ao meu destino. Respondeu o homem, fitando enojado a aparência daquele pequeno, raquítico e imundo velho, vestido de trapos.
- Fazendo isto, você sabe muito bem o quanto está se arriscando à toa. Basta você dar mais alguns passos extras em direção a passarela e atrasar-se um pouco mais e certamente chegará ao seu destino sem ter passado nenhum perigo. Disse ele. - Às vezes para chegarmos aonde queremos é preciso correr riscos, meu senhor. Falou o homem, com rispidez.
Enquanto conversava com o velho mendigo, o homem de terno e gravata abriu sua maleta preta e retirou dela uma venda, também preta, e cobriu os seus olhos. Agora, ele não podia ver o velho, a estrada ou qualquer outra coisa. O homem estava completamente cego.
- Não! Não vá por esse caminho! É perigoso! Gritou o velho, estendendo uma de suas mãos enrugadas e sujas, enquanto observava o indivíduo se afastar, andando cegamente, alheio aos perigos da estrada velha e caótica. Enquanto atravessava a estrada, o homem de terno e gravata escutou apenas o ruído de uma freada brusca, para logo em seguida sentir algo enorme colidindo com o seu corpo e inundando de dor o seu sistema nervoso. O impacto do veículo contra ele fez com que a venda que cobria os seus olhos se soltasse, fazendo-o enxergar novamente.
Estendido no chão sujo, o homem permaneceu vivo durante alguns longos segundos e pôde ver o erro que cometera ao escolher o caminho que aparentava ser o mais fácil. Com uma lágrima brilhante que nem chegou a escorrer, o homem de terno e gravata, com a sua maleta preta jogada ao chão, nem chegou a fechar os olhos quando morreu.
Os transeuntes que passavam na hora do acidente reuniram-se em volta do corpo massacrado e ensanguentado do morto. Chocados com a cena, mas acostumados com as tragédias que ocorrem na sua cidade.
O velho olhou apenas mais uma vez para o corpo e foi-se embora, num passo moroso e tranqüilo, assobiando, em direção à passarela.
2 comentário(s):
O autor desse conto é o meu irmão, Wasley. Eu gosto muito dos contos dele e, em breve, estarei publicando outros aqui.
Esse conto se parece muito com um conto meu chamado "A esquina". Porém, o meu conto fala justamente dos riscos que precisamos assumir para evoluirmos, enquanto o conto do Wasley fala do perigo de percorrermos caminhos desconhecidos e perigosos. De qualquer forma a intertextualidade existe.
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