Transcendental

11 de nov. de 2011











Uma angústia íntima nos acompanha desde jovens.
Algo que procuramos e não sabemos o quê.
Uma verdade presa dentro de nós mesmos.
A razão dos sofrimentos e das alegrias,
dos encontros e desencontros.
Uma busca incessante na escuridão.

Esperamos um dia voltar ao lar de onde viemos
e do qual não nos lembramos.
Uma angústia íntima nos acompanha desde tempos longínquos.
O vazio de não nos conhecermos.
A intuição inconsciente do que somos nos diz:
Queremos apenas nos libertar.

Quando eu estiver feliz

29 de out. de 2011

Quando eu estiver feliz
choverei flores ao meu redor
cantarei cores
plantarei músicas macias e doces
o amor pequeno se tornará maior
quando eu estiver feliz.

Quando eu estiver feliz
vou chorar sorrindo de alegria
correrei pelo ar
olharei com calma a luz se apagar
não haverá dor nem nostalgia
quando eu estiver feliz.

Psicoscopia

21 de out. de 2011


Olho translúcido da alma,
Enxerga-me por dentro
Onde não consigo ver
E onde é mais importante avistar.

Enxerga-me
E mostra o caminho
Para me autotransformar.


Terra do nunca

14 de set. de 2011
  


Eu morava numa terra onde tudo era feliz.
Cachoeiras, correntezas, margaridas e jasmins.
Então ficou escuro e tudo teve fim.
Descobri que era um sonho e não podia mais dormir.
Agora o meu dilema é saber se fico aqui
Ou se fecho os meus olhos e retorno ao meu jardim.

As mãos de minha mãe

28 de ago. de 2011











As mãos de minha mãe
segurando a enxada.
As mãos de minha mãe
segurando a colher de pau.
As mãos de minha mãe
segurando a sandália.
As mãos de minha mãe
segurando meu rosto.
São as mesmas mãos.
São as mesmas mães.


Águas

20 de ago. de 2011















Lagoa

Imensidão calma cercada de grama.
Como és profunda, solidão!
Observa-me, reflexo do meu reflexo.
Meu olhar te abarca como braços em um abraço.
E você me sorri com uma brisa.

Cachoeira

Águas violentas chocam-se...
Borbulham...
O rio, banhado de sua ira, corre.
A água que despeja, fria e forte, oculta-me
afogado em sua beleza.
E tu segues em eterna queda, sem se importar.

Poema conscienciológico

10 de ago. de 2011









Saí do meu corpo,
Meus sentimentos viajaram
por dimensões desconhecidas.
A mente liberta enxerga
além de uma única vida.



Poema para o meu aniversário

3 de ago. de 2011
















parabéns para o que eu ainda não sou
nesta data como qualquer outro dia
muitas aprendizagens
nos anos que ainda me restam de vida.


Hai-pai

30 de jul. de 2011














Meu pai passarinho.
Juntando gravetos 
teceu nosso ninho.



Canção sem som

23 de jul. de 2011













Harmonias inaudíveis
Melodias mudas
Ritmos quietos



Haicai da morte

19 de jul. de 2011

















O fim da existência
O alívio eterno
Ou o nascimento?


Como fazer um haicai

14 de jul. de 2011


















Três versos
bem pequenos
e o desejo.

O estático inexistente

7 de jul. de 2011













Para onde vou
se não estou
em nenhum lugar?


E agora Drummond?

1 de jul. de 2011

















José decidiu-se:
Chutou a pedra,
e o anjo desentortou.



Haicai-não-cai

26 de jun. de 2011
















O raio não cai
duas vezes
no mesmo haicai.



Orquidário

21 de jun. de 2011













Orquídeas no jardim:
Energias perfumadas,
Casulos de almas.


Círculo

19 de jun. de 2011















O início e o fim
enfim
se encontram.


Amorecido

2 de jun. de 2011




onde o amor mora
o ódio murmura
a dor recente
se ressente
quando o amor amora.
defende-se contra o ardor
que o peito sente
mas por dentro
a alma mente
quando o amor aflora.
uma demorada prece:
morra o amor
ou morra a hora
em que o amor amorece

Se...

4 de mai. de 2011



Se o espinho lhe machuca os dedos,
acaricie as pétalas da rosa.
Se o sol se pôr por completo,
desvende o segredo de cada sombra.

Se o futuro lhe parecer incerto,
acerte as contas com o presente.
Se sentires saudades demais,
feche seus olhos e pense.

Se algo lhe parecer ilusão,
aproveite as vantagens do absurdo.
Se não tens nem sequer um amor,
ama a todos no mundo.

Se não acreditas na dor,
feche as portas dos sonhos.
Se o gosto já não tem sabor,
Sinta o aroma com os olhos.

Se já não tens juventude,
sorria sempre com melancolia.
Se não és velho ainda,
corra em busca da sabedoria.

Se não lhe agrada o que é feio,
Não busque entender o que é belo.
Se não és capaz de chorar,
derrame lágrimas nos gestos.

Sociedade das formigas sem açucar

29 de abr. de 2011





Nós te fizemos forte!

Não te lembras como eras? Um fracote, sempre com medo de tudo. Desde criança; apanhava na escola, na rua, saco de pancadas por vocação. Mas nós te demos uma opção. A opção de ser forte, de se vingar!

Não é nada muito difícil...
Bastam alguns desejos repetidos periodicamente e pronto! É o começo da ascensão. Você já está pronto para usar a escada feita de pessoas. É só procurar o melhor ponto de apoio, normalmente o rosto é o melhor lugar para se pisar. Mas se a subida estiver difícil, o coração proporciona uma bela propulsão. Sei que te lembras quando tua mão se tornou forte o suficiente para esmagar. Tu nos deve isso, ingrato! Nós te demos um terno à prova de balas, uma maleta repleta de vidas as quais tu podes controlar como bem queiras.

Nós te fizemos forte, um vencedor!

E agora o que é isso que vemos em teu rosto?
É assim que nos paga?
Como te atreves a derramar uma lágrima?

O transeunte

6 de abr. de 2011











E aos poucos ele foi entrando na vida...
Sem perceber, sem questionar seu destino.
E surpreendeu-se, como se fosse a primeira vez
que estivesse acordado.
Tudo era bonito e camuflado.
Ele não via.

Caminhou preguiçosamente pela estrada florida
para retardar o fim do passeio.
Mas há caminhos que não vemos,
que parecem nos puxar
e nos tratar como uma piada.
Então entramos e nos perdemos
sempre.

E a nuvem se desfaz
E os olhos se abrem
derramando lágrimas presas.
E tudo o que vemos então
é um único caminho
o único que podemos seguir.

Reminiscências- parte final

3 de abr. de 2011










Está tudo terminado: nossa juventude, nossa amizade e a farsa desta reunião. O que nós estávamos pensando? Que o passado poderia voltar? Que nossos sonhos e ilusões ainda estivessem vivos? Estão mortos tanto quanto "ele". Mas se é assim, porque tenho medo? Por que os olhos inquisidores de Bete me perturbam?

Já estamos todos alcoolizados, prometendo não nos separar, continuar mantendo contato, fazendo um pacto de amizade como se fôssemos adolescentes. Não aguento mais isso! É um alívio quando pagamos a conta e começamos a nos despedir. Eu olho para todos. Por que sinto esse aperto no peito, como se essas pessoas fossem importantes para mim?

Eu só quero ir embora e fugir do passado, antes que a Bete me acuse de algo. Ela se despede de todos e eu também. Quero sair sem que seja preciso me aproximar dela.

- Roberto.

Eu me viro e vejo todos indo embora, ainda se cumprimentando. Bete é a única parada diante de mim, calma, com um sorriso triste nos lábios. Como ela está bonita! Não há mais como escapar. Se ela tem algo a me dizer, que diga!

- Sim, Bete.
- Roberto, você conversou tão pouco comigo hoje.
- Conversei pouco com todos.
- Você costumava falar mais. 
- Mas os tempos agora são outros. O passado não me interessa mais.

Ela se aproxima e me olha nos olhos.
- Mas a mim interessa.

Tento não parecer amedrontado e espero.
- Há algo que preciso te dizer há muito tempo mas que nunca tive coragem.

Não há mais como fugir, estou encurralado. Eu respiro enquanto os olhos dela me fulminam. Ela abre os lábios e eu fecho os olhos.

- Roberto, eu sempre te amei...
FIM

Reminiscências- parte 6

17 de mar. de 2011














O garçom surge para me salvar. Peço mais cervejas, mas não sei se é uma boa ideia. A cada rodada, o álcool deixa meus antigos amigos mais desinibidos, e as lembranças vêm à tona.

Mas eu preciso me desvencilhar das perguntas de Bete sobre nosso amigo ausente e talvez de outras também. Talvez eu não devesse levar tudo tão a sério, mas qual seria a reação deles se soubessem o que aconteceu realmente?

Bebo pouco para não me soltar. Bete está me irritando, olhando-me desse jeito. Ela não disfarça, os olhos brilham, a boca às vezes sorri levemente e às vezes fixa-se em um desenho sério nos lábios. Ela está muito atraente e se tornou perigosa. Até o final de nossa reunião, ela me dirá o que a está incomodando.

Ou pior, dirá a todos.

continua...

Reminiscências- parte 5

4 de mar. de 2011
 












- Vocês eram muito amigos, não é Roberto?

Eu temia essa pergunta, ainda mais de quem veio. Era a Bete de novo.

- Sim,- a resposta sai trêmula- éramos realmente muito amigos.

Acho que todos entenderam o tremor de minha voz como uma emoção afetiva e não nervosismo. Mas a Bete continua me olhando fixamente, com a sobrancelha arqueada. Não posso deixar de notar a boca carnuda. Ela ficou bonita. Não é mais a menininha sem graça de antigamente. Há uns dois anos ela começou a me enviar mensagens eletrônicas e me adicionou em alguns sites de relacionamento. Sempre me tratando com carinho, mas distante. Por que agora essa necessidade de reunir nossa antiga turma? Meus receios aumentam. Por que só agora? Será que ela havia descoberto algo? Se ela soubesse a verdade, eu preferia estar morto.

continua...

Reminiscências- parte 4

18 de fev. de 2011











- Está faltando alguém aqui.

Diz Clara olhando para uma cadeira vazia ao seu lado. Todos ficam em silêncio. Nem mesmo Fernandinha sorri. Bete finalmente desvia os olhos de mim e olha para a cadeira também.

- Sim, ele faz falta!

É Felipe quem diz. A lembrança de nosso amigo ausente faz até mesmo ele se sentir mais íntimo. Sentimos um afeição mútua percorrendo a mesa, como se nossos elos estivessem se juntando novamente. Tudo por uma lembrança que eu preferia não relembrar.

Mexo o pé por debaixo da mesa para aliviar a tensão, torcendo para que Bete não perceba meu nervosismo. Mas ela está tão absorta olhando para a cadeira vazia que eu não preciso me preocupar. É impressão minha, ou os olhos dela estão úmidos?

continua...

Reminiscências- parte 3

10 de fev. de 2011










Eu pensei seriamente em não vir a este encontro. Mas uma curiosidade mórbida me impulsionou. Como eles estariam? Envelhecidos? Estabilizados economicamente? Felizes? O nosso elo era forte no passado. Como deixamos as mágoas corroerem nossas correntes? Talvez tudo tivesse ficado esquecido no decorrer dos anos. Mas eu não podia esquecer. E sei que não era o único.

- Não sei o que dizer.
É a resposta que dou a Bete sobre meu silêncio. Posso ver o sorrisinho no canto de seus lábios. Eu estremeço.

- Como você está bonito, Roberto!
O comentário de Fernandinha vem acompanhado por uma gargalhada. Ela espeta um pedaço de carne com um palito e leva aos lábios ainda estampados por um sorriso. 

Acho que a gargalhada de Fernandinha é a única coisa sincera entre nós.

continua...

Reminiscências- parte 2

2 de fev. de 2011














Foi a Bete quem mandou os e-mails nos convidando para uma reunião entre os antigos amigos. Mas será que podemos realmente nos chamar assim? Amigos! Eles ficaram sepultados no meu passado: o sorriso de Clara, o olhar perturbador de Douglas, a gargalhada de Fernandinha, a agitação de Felipe e... o mistério de Bete. Nunca consegui decifrá-la. O que ela sabia sobre o nosso passado? Por que ela não tira os olhos de mim? Eu não devia ter vindo. Talvez eu só não esteja mais incomodado do que o Felipe.

- Não poderei ficar por muito tempo. Vocês sabem...negócios.
- Nem parece o Felipe falando. Nunca imaginei ver você de terno.
- As coisas mudam, Clara. Você também mudou, embora não perceba.

Os dois se olham tão profundamente que Douglas fica incomodado. Será que ele sabia? Duvido que ela tenha contado. Ela me disse que nunca contaria. Mas Douglas sempre desconfiou, eu sei disso.
-Por que tão calado, Roberto?
É Bete quem me pergunta. Não sei se estou preparado para responder.

continua...

Reminiscências- parte 1

21 de jan. de 2011














Eu tinha quase certeza de que me arrependeria deste encontro. Cada rosto me traz diferentes lembranças, é como retornar ao passado. Olho para os olhos de Clara, adornados por um óculos estilo anos setenta- ela sempre foi a mais riponga. Ao lado dela, Douglas, o intelectual. Na época não imaginávamos que as discussões filosóficas dos dois terminariam em um casamento de mais de vinte anos. Ele segura a mão dela de leve, os olhos dele continuam incrédulos, e o sorriso de Clara continua lindo e calmo.

Bete é a negra do grupo, os cabelos encaracolados estão amarrados em um estilo africano. Ela não tem mais o ar ingênuo de antes e me olha como se estivesse revivendo o passado também.

Felipe está incomodado em seu terno escuro, olha para os lados e para o celular a todo instante. Parece um fardo estar entre os antigos colegas. E pensar que era o mais politizado de todos. Agora é apenas mais um que se rendeu ao sistema.

A Fernandinha ri o tempo todo e faz questão de relembrar os momentos mais fúteis de nosso passado. Ela não mudou nada.

E eu... como será que me veem hoje, quase vinte anos depois?

continua...

Meu doce cerrado

18 de jan. de 2011












Meu doce cerrado
Tão cinza e soturno
De cantos ocultos
De mato fechado


Meu doce cerrado
De clima noturno
Eu colho teus frutos
Molhados de orvalho


Árvore tristonha
De galhos torcidos
Abro meus braços
Para estar ao seu lado


Divida tua dor
E eu divido contigo
Também minha dor
Meu doce cerrado.