Reminiscências- parte 1

21 de jan. de 2011














Eu tinha quase certeza de que me arrependeria deste encontro. Cada rosto me traz diferentes lembranças, é como retornar ao passado. Olho para os olhos de Clara, adornados por um óculos estilo anos setenta- ela sempre foi a mais riponga. Ao lado dela, Douglas, o intelectual. Na época não imaginávamos que as discussões filosóficas dos dois terminariam em um casamento de mais de vinte anos. Ele segura a mão dela de leve, os olhos dele continuam incrédulos, e o sorriso de Clara continua lindo e calmo.

Bete é a negra do grupo, os cabelos encaracolados estão amarrados em um estilo africano. Ela não tem mais o ar ingênuo de antes e me olha como se estivesse revivendo o passado também.

Felipe está incomodado em seu terno escuro, olha para os lados e para o celular a todo instante. Parece um fardo estar entre os antigos colegas. E pensar que era o mais politizado de todos. Agora é apenas mais um que se rendeu ao sistema.

A Fernandinha ri o tempo todo e faz questão de relembrar os momentos mais fúteis de nosso passado. Ela não mudou nada.

E eu... como será que me veem hoje, quase vinte anos depois?

continua...

Meu doce cerrado

18 de jan. de 2011












Meu doce cerrado
Tão cinza e soturno
De cantos ocultos
De mato fechado


Meu doce cerrado
De clima noturno
Eu colho teus frutos
Molhados de orvalho


Árvore tristonha
De galhos torcidos
Abro meus braços
Para estar ao seu lado


Divida tua dor
E eu divido contigo
Também minha dor
Meu doce cerrado.