Somewhere in time- parte um

26 de jul. de 2014













Conto inspirado no álbum "Somewhere in time"da banda inglesa de Heavy metal Iron Maiden. Publicado originalmente no site Mojobooks. Nessa republicação há pequenas mudanças e correções.


Grécia, 336 A.C

A comitiva real segue pelas ruas de Olinto, uma cidade no norte da Grécia. À frente, o jovem e recente rei cavalga imponente. Os que veem a comitiva passar se afastam e comentam uns com os outros. Eles nunca viram aquele rosto, mas todos já ouviram histórias sobre aquele jovem. Eles tremem ao vê-lo passar pelas ruas de sua cidade sem ao menos ter sido anunciado: Alexandre Magno, rei da Macedônia, rei da Grécia. 

As pessoas comentam umas com as outras enquanto a caravana dirige-se à casa de Dúris, um dos fazendeiros mais ricos de Olinto. Seria possível que Dúris conhecia o grande rei Alexandre, ou será que a visita do monarca não era uma visita cordial. Alexandre entrou, acompanhado apenas de dois de seus generais. Os curiosos nem ao menos ficaram sabendo que o motivo da visita não era Dúris e sim um de seus hóspedes. Dúris recebeu o rei emocionado e com medo ao mesmo tempo. Alexandre gostava de ver a reação que causava nas pessoas, mas acalmou Dúris e disse que vinha em paz. Quando disse o motivo de sua visita, Dúris finalmente entendeu. A fama de seu hóspede estava aumentando, embora ele não quisesse que isso acontecesse.

Alexandre foi levado até à sala da casa. Sentado em um dos divãs estava um jovem, aparentando a mesma idade de Alexandre. O rei pediu para que ficassem a sós. Alexandre sentou-se no mesmo divã e olhou com desejo para o jovem.

- Se é mesmo bom como dizem, já deve saber o motivo de minha visita.

- Sim, majestade. Creio que sairá daqui satisfeito e ao longo de sua vida comprovará que tudo o que eu disser terá sido verdade.

Alexandre o observou por um instante, tentando identificar o estranho sotaque do jovem.

- Pois então, oráculo, diga o que o futuro me reserva.

Alexandre ouviu tudo o que queria ouvir, inclusive coisas que até aquele momento ele havia guardado somente para si próprio, planos ambiciosos de conquista de um jovem que queria dominar o mundo. O oráculo disse que o nome de Alexandre, o Grande, se eternizaria. Ele dominaria o império persa e estenderia seu domínio até a Índia. O oriente cairia perante a força de Alexandre Magno. Era possível perceber o brilho de cobiça nos olhos do futuro imperador. Ele hesitou um instante antes da pergunta que o incomodava.

- E como eu morrerei?

O jovem vidente riu calmamente e olhou sem medo para o monarca.

- Sua morte não será tão gloriosa quanto a sua vida.

Alexandre não insistiu. O rei ofereceu riquezas e proteção ao jovem mas ele não aceitou.

- O que procuro está acima de todos os sonhos da humanidade e nem vossa majestade poderia me dar. Mas lhe peço uma coisa.

- Qualquer coisa que quiser. Disse o rei.

- Conquistarás o Egito e lá fundarás uma magnífica cidade. Tudo que lhe peço é que a chame de Alexandria.
- Uma homenagem a mim mesmo é tudo o que pedes?

O jovem sorriu novamente, aproximou-se de Alexandre e disse algo em seu ouvido. Alexandre sorriu.

- Agora entendo. Se o que dizes for verdade, sua vontade será satisfeita.

A comitiva partiu logo em seguida, mesmo com a insistente bajulação de Dúris para que permanecessem. Do andar de cima, o jovem oráculo observava. Ele havia se divertido bastante, mas agora era necessário partir. Sua notoriedade estava ficando perigosa. Depois dessa visita, os seus perseguidores descobririam rapidamente o seu paradeiro. Ele fechou os olhos, saboreando aqueles momentos regozijantes de vaidade saciada e pronunciou vagarosamente, sentindo o som de cada sílaba, o nome que o extasiava: "Alexandria".

Continua...