Conto inspirado no álbum "Somewhere in time"da banda inglesa de Heavy metal Iron Maiden. Publicado originalmente no site Mojobooks. Nessa republicação há pequenas mudanças e correções.
Grécia, 336 A.C
A comitiva real segue pelas ruas
de Olinto, uma cidade no norte da Grécia. À frente, o jovem e recente rei
cavalga imponente. Os que veem a comitiva passar se afastam e comentam uns com
os outros. Eles nunca viram aquele rosto, mas todos já ouviram histórias sobre
aquele jovem. Eles tremem ao vê-lo passar pelas ruas de sua cidade sem ao menos
ter sido anunciado: Alexandre Magno, rei da Macedônia, rei da Grécia.
As pessoas comentam umas com as
outras enquanto a caravana dirige-se à casa de Dúris, um dos fazendeiros mais
ricos de Olinto. Seria possível que Dúris conhecia o grande rei Alexandre, ou
será que a visita do monarca não era uma visita cordial. Alexandre entrou,
acompanhado apenas de dois de seus generais. Os curiosos nem ao menos ficaram
sabendo que o motivo da visita não era Dúris e sim um de seus hóspedes. Dúris
recebeu o rei emocionado e com medo ao mesmo tempo. Alexandre gostava de ver a
reação que causava nas pessoas, mas acalmou Dúris e disse que vinha em paz.
Quando disse o motivo de sua visita, Dúris finalmente entendeu. A fama de seu
hóspede estava aumentando, embora ele não quisesse que isso acontecesse.
Alexandre foi levado até à sala
da casa. Sentado em um dos divãs estava um jovem, aparentando a mesma idade de
Alexandre. O rei pediu para que ficassem a sós. Alexandre sentou-se no mesmo
divã e olhou com desejo para o jovem.
- Se é mesmo bom como dizem, já
deve saber o motivo de minha visita.
- Sim, majestade. Creio que sairá
daqui satisfeito e ao longo de sua vida comprovará que tudo o que eu disser
terá sido verdade.
Alexandre o observou por um
instante, tentando identificar o estranho sotaque do jovem.
- Pois então, oráculo, diga o que
o futuro me reserva.
Alexandre ouviu tudo o que queria
ouvir, inclusive coisas que até aquele momento ele havia guardado somente para
si próprio, planos ambiciosos de conquista de um jovem que queria dominar o
mundo. O oráculo disse que o nome de Alexandre, o Grande, se eternizaria. Ele
dominaria o império persa e estenderia seu domínio até a Índia. O oriente
cairia perante a força de Alexandre Magno. Era possível perceber o brilho de
cobiça nos olhos do futuro imperador. Ele hesitou um instante antes da pergunta
que o incomodava.
- E como eu morrerei?
O jovem vidente riu calmamente e
olhou sem medo para o monarca.
- Sua morte não será tão gloriosa
quanto a sua vida.
Alexandre não insistiu. O rei
ofereceu riquezas e proteção ao jovem mas ele não aceitou.
- O que procuro está acima de
todos os sonhos da humanidade e nem vossa majestade poderia me dar. Mas lhe
peço uma coisa.
- Qualquer coisa que quiser.
Disse o rei.
- Conquistarás o Egito e lá
fundarás uma magnífica cidade. Tudo que lhe peço é que a chame de Alexandria.
- Uma homenagem a mim mesmo é
tudo o que pedes?
O jovem sorriu novamente,
aproximou-se de Alexandre e disse algo em seu ouvido. Alexandre sorriu.
- Agora entendo. Se o que dizes
for verdade, sua vontade será satisfeita.
A comitiva partiu logo em seguida, mesmo com a
insistente bajulação de Dúris para que permanecessem. Do andar de cima, o jovem
oráculo observava. Ele havia se divertido bastante, mas agora era necessário
partir. Sua notoriedade estava ficando perigosa. Depois dessa visita, os seus
perseguidores descobririam rapidamente o seu paradeiro. Ele fechou os olhos,
saboreando aqueles momentos regozijantes de vaidade saciada e pronunciou vagarosamente,
sentindo o som de cada sílaba, o nome que o extasiava: "Alexandria".
Continua...
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