Poema para o natal

13 de dez. de 2010













Perdoar o que um dia achamos imperdoável:
é o que nos faz melhores.
Ver o mundo com outros olhos,
o olhar filtrado pelo amor.
Sem rancor.
Sem ódio.
Ver que todas as pessoas são únicas.
Que caminhamos todos em direção ao bem.
Perceber isso é perceber também que avançamos.
É perceber que a vida tem um sentido.
E que um dia o encontraremos,
quando chegarmos ao fim do caminho.

Anoitecer

6 de dez. de 2010



O sangue do sol se esvai no céu,
Sobre silenciosas sombras de azul.
Em seu seio silente, a tarde sente
a calma noite chegar.

O vento zune um som de brisa.
Sob os sons de sua dança,
A noite avança triste e cinza
E a tarde em suave tom descansa.

As flores dormem em cheiro doce
Como se fossem sonhos de princesas.
O odor de sono que a tarde trouxe
Esvai-se sob os signos das estrelas.

As fadas falam de flores belas.
A lua lança a luz do luar,
A cantar a vida, coisas eternas,
A tarde morre para depois retornar.

Caminho

1 de dez. de 2010












Dê-me uma luz
e eu encontrarei
a escuridão

Inutilidades

29 de nov. de 2010












Não quero escrever sobre a poesia
e nem sobre o amor
Não quero escrever sobre a alegria
e nem sobre a dor
Não quero escrever palavras
nem letras
Não quero escrever frases
nem sentenças
Não quero escrever sobre mim
e nem sobre ninguém
Não quero escrever sobre a morte
nem sobre a vida também
Não quero escrever sobre o passado
Não quero escrever sobre o imprevisível
Não quero prosa, não quero fatos
Não quero o dito nem o indizível
Não quero escrever sobre o tudo
nem sobre o nada
Não quero sentido
e nem sentir
Não quero não querer
e nem escrever
Isto que escrevi.

O vento

26 de nov. de 2010












O vento uivando no voo da voz
jogou meus versos na direção contrária da criação.
E zuniu e fodeu as imagens imaginadas.
Um vento voraz de apetite quente,
que inexplicavelmente come palavras.
De ondes vem, vento de fel?
Que sopra meu papel e minha inspiração?

Poema para colorir

21 de nov. de 2010

















É feito de branco
o momento da solidão.

Peccata mundi

18 de nov. de 2010














Pecados
Pesados
Pensados
Ou não
Perdoados
Esquecidos
Permitidos
Em vão
Pecados
Passados
Pousados
No chão
Pisados
Colhidos
Na palma
Da mão.

Rótulos Para Garrafas

28 de out. de 2010














Sempre que digo a alguém que jogo RPG, ouço os mesmos comentários: “Ah, é aquele jogo que mata; é coisa do demônio; dizem que é preciso fazer um ritual de iniciação; se você perder, tem que fazer o que a outra pessoa quiser.” Já ouvi esses e outros comentários igualmente ridículos e ditos até por pessoas instruídas, com nível superior, e até mesmo por professores universitários!

Eu desconheço a visão que as pessoas têm sobre o RPG em outros países, mas aqui, no Brasil, ela é totalmente distorcida e preconceituosa, demonstrando a falta de informação a respeiro do assunto e a alienação provocada pelos meios de comunicação.

O único argumento usado contra o RPG é um pequeno número de assassinatos supostamente influenciados pelo jogo ou como parte de rituais ocorridos durante as sessões (nota aos desinformados:é assim que chamamos as partidas, não tem nada a ver com espiritismo). Posteriormente, foi esclarecido que esses crimes não estavam relacionados ao RPG. Quem quiser, pode ler um artigo a respeito no endereço http://www.daemon.com.br/rpg_inocente.asp. Mas vamos supor que esses crimes tivessem sido realmente influenciados pelo RPG. Demonstrarei que, mesmo assim, esse argumento não é válido para condenar o jogo.

Desde a minha infância, ouço notícias de assassinatos e suicídios influenciados pela música, pelo cinema, pelas religiões e por vários outros segmentos. Muitas dessas denúncias são apenas sensacionalismo ou demonstrações explícitas de preconceito. Mas, infelizmente, acredito que muitas delas possam ser verdadeiras. Ao analisarem os assassinos e o passado dos suicidas, os especialistas sempre descobrem que são pessoas desequilibradas emocional e psicologicamente (pois, afinal de contas, somente alguém com problemas desse tipo se deixaria influenciar por estímulos externos para cometer crimes ou se matar). Acredito que para uma pessoa desequilibrada qualquer coisa possa ser um estímulo para desencadear uma ação violenta: a letra de uma música que acredita ter sido escrita para ele; uma pintura, na qual ele vê uma mensagem oculta, um versículo da bíblia, que acredita ser uma profecia relacionada a ele; são inúmeras possibilidades.

Agora pergunto a vocês: seria justo condenar a música, seja qual for o estilo, e todos os milhões de pessoas que gostam dessa arte por causa de alguns desequilibrados que cometeram crimes influenciados por ela? Seria justo condenar o cinema, as religiões em geral e qualquer outra manifestação humana por causa de casos isolados de loucura? O Role Playing Game é praticado por milhões de pessoas no mundo, seria justo condenar esses milhões de jogadores e o próprio jogo por algum crime que venha a ocorrer influenciado por ele? Como disse antes, qualquer coisa pode desencadear um ato de insanidade, pois não sabemos o que se passa na mente de um louco. Portanto, não devemos julgar o suposto estímulo, seja ele qual for.

Para terminar, gostaria de fazer uma analogia. Quando compramos um produto, principalmente remédios, esperamos que o fabricante especifique bem no rótulo da garrafa a sua fórmula, o modo de fabricação, a embalagem, o uso correto e demais informações importantes; ou seja, esperamos que ele domine totalmente o assunto. Portanto, antes de rotularem o RPG, os seus críticos deveriam buscar informações a respeito, para não divulgarem informações falsas e contraditórias. Os meios de comunicação deveriam ser os primeiros a fazer isso, pois como formadores de opinião, correm o risco de propagar a intolerância e o preconceito, que por sua vez, também são causas de vários crimes e atrocidades.

O presente de Deus

7 de out. de 2010
















Conta-se que, certa vez, perguntaram a um sábio qual seria o destino da humanidade. Ele então contou a seguinte história:
“Depois de ter criado todas as coisas, Deus fez o Homem e deu a ele uma parcela de seu Poder de Criação. Empolgado com o presente divino, o Homem rapidamente pôs-se a criar compulsivamente. Criou utensílios, ferramentas, cidades, máquinas e tudo o mais que tornava a vida mais prática e fácil.

Porém, com o tempo, o Homem percebeu que as coisas mais belas não tinham sido criadas por ele, e sim, pelo Criador Supremo. Então o Homem viu que sua capacidade de criação era ínfima se comparada ao poder de Deus.

Assim, inconscientemente, o Homem havia criado a Inveja e o Orgulho. Munido desses novos sentimentos criados por ele mesmo, o Homem, aos poucos, foi criando outros: o Egoísmo, o Ódio, o Rancor, a Intolerância...

Em pouco tempo, o mundo ao qual ele havia recebido como presente de Deus estava quase destruído e as guerras lançavam irmão contra irmão, destruindo a Humanidade. Quando o Homem se deu conta do ponto a que havia chegado, recorreu ao Pai, implorando seu auxílio.

Deus, então, pediu que ele fechasse as mãos uma sobre a outra, e um brilho começou a despontar por entre os dedos do Homem. Quando ele abriu as mãos, lá estava a Capacidade Criativa que Deus o havia dado. Porém junto a ela, havia mais dois pontos luminosos: a Sabedoria e a Esperança. Os dois brilhos foram aumentando e juntaram-se ao Poder de Criação, formando um novo presente: Deus havia dado ao Homem o Poder de Recomeçar."

Múltipla escolha

29 de set. de 2010













A poesia é:

fuga
música
alegria
dor
insensatez
delírio
luta
ritmo
desejo
fardo
catarse
amor

ou

nenhuma das alternativas acima

Pensamentos filosóficos de uma folha

26 de set. de 2010













Para meu amigo Guilherme Castro

(Algo escrito há muito tempo)


Na próxima encarnação quero ser uma pessoa, um ser humano. Somente eles têm o privilégio de poderem ser felizes. Pelo o que eu saiba, nós, vegetais, não temos consciência da felicidade. Os humanos pelo menos podem tentar alcançá-la.

Não quero ser planta, nem um mero animal, quero ser uma pessoa. Quero sofrer todas as desilusões as quais elas estão sujeitas. Quero amar, sorrir, chorar, crescer com as quedas, me tornar sábio com a idade. Quero arriscar.

Sou apenas o nariz das plantas. As únicas sensações que tenho são o sol, a chuva e o vento que chegam até mim. Posso ser bonita e agradável aos olhos, mas estou presa para sempre ao mesmo galho. Não posso escolher meu caminho. Não posso desviar do sol ou da chuva quando eu quiser. As únicas coisas diferentes que podem acontecer em meu destino são um granizo me rasgar, uma criança me colher ou um passarinho me bicar. Os humanos escolhem seu caminho na medida do possível. Eles podem criar. Ah, como isso seria bom.

Se eu pudesse ser uma pessoa, me contentaria até em ficar triste. Pois estar triste é sinal de que se conhece a felicidade e ser um humano é poder partir em busca dela.
Sim, na próxima encarnação quero ser uma pessoa, um ser humano. Para não precisar que ninguém pense nem escreva por mim.

O dono do mundo

4 de set. de 2010

















E se dissessem:
“Vá, possuas o mundo!”
Ainda assim não saberia tê-lo.
Não caberia em minha mão,
não poderia retê-lo.
Pois o mundo é maior que o mundo.
As almas pesam
e os pensamentos.
Não poderia carregá-los em minhas costas,
já tenho muito peso.
Se eu tivesse o mundo,
devolveria-o a ele mesmo.

Último ato- cena única

30 de ago. de 2010















Não sou Romeu nem Hamlet
Nem trágico nem representável
Minhas palavras são secas e isentas de dramaticidade
Nunca tive graça alguma
Sou buritizeiro seco sem frutos de qualquer espécie
Minha foto é uma paisagem do cerrado
Meu romantismo vai até onde minha razão se impõe
E minha razão é minha inimiga
Aliada do tempo
Sou duro como um poema de Melo Neto
Estou entre Ramos e Rosa
Nem um nem outro
Decido o que minha indecisão decide
Às vezes enxergo o que imagino ser real
Às vezes enxergo apenas o que imagino
Ontem, o ontem aproximou-se e disse-me umas verdades
Que há muito tempo eu não queria ouvir
Fui obrigado a concordar com o sermão
As palavras fixaram-se em minha mente como um encosto
E elas sopram todos os dias em meu ouvido
O seu veneno de realidade
Nunca fui Macário e nem tampouco Fausto
O demônio nunca foi meu companheiro
Falta eloquência e verdade em minhas palavras
Meu paraíso não tem flores meu inferno não tem chamas
Mas às vezes gosto de gritar
Apenas para ouvir o silêncio em resposta
O que dizem de mim não é o que dizem de mim
E eu percebo o que não foi dito
O reflexo no espelho não me diz nada
Eu não sou a imagem de mim que penso ver
Eu não sou a personalidade que penso ter
Não sou por dentro nem por fora
Tenho acesso aos dois lados da notícia
O lado que é mentira
E a mentira que se tornou verdade
Por isso não enxergo nada à minha frente
Prefiro ver o interior
Onde a realidade está encarcerada com correntes cegas
Enferrujadas pelo tempo
Não sou Próspero nem Miranda
Minha tempestade vem sem que eu a invoque
Não vi apenas o mundo de Caliban
Nem tampouco Caliban no mundo
Termino o que faço não por vontade própria
Mas sim por que tudo precisa terminar
O fim é inevitável
Talvez não necessário
Mas como saber
Se agora é o fim
Apenas deixo como registro
As minhas verdades as quais eu próprio não acredito
E as possíveis definições vazias
De tudo o que eu não sou.

Presença da morte

16 de ago. de 2010













Retratos, teias de aranha.
Poeira, frestas diáfanas,
portas semi-abertas
( ou semi-fechadas)?
Nos retratos, olhos que olham pro nada.
Cheiro de flores, sem flores.
Sombras imóveis
silêncio
e no meio da sala
eu

Copla

18 de jun. de 2010











Escrevi um poema na areia.
O mar, exigente, apagou.
Pra que repetir o poema
Se o próprio mar não gostou!

Fugaz

11 de jun. de 2010












...mais um dia,
o tempo percorrerá seu curso,
cada depois se tornará um antes,
envelhecerei a cada segundo,
Percorreremos vários instantes em cada parte do mundo,
e a cada momento que o tempo propicia,
esperaremos, ansiosos e tristes,
por menos um dia...

The land of shattered dreams.

26 de mai. de 2010












When your own dreams wake
It's time to get rid the hope you take.
But while you don't fall asleep
Your dreams remain always deep.

A bela adormecida

22 de abr. de 2010












Triste, tímida, ingênua; ninguém acreditava que ela poderia ter aquele dom tão diverso à sua personalidade. No começo, foram apenas alguns versos que, por acaso, alguém a ouviu recitar. Mas a força da expressão e o sentimento colocado nas palavras levaram o ouvinte às lágrimas. Logo, a fama da moça se espalhou. Ninguém nunca ouvira antes poemas recitados daquela forma, retirando sensibilidade até mesmo dos corações mais duros. Era impossível ficar impassível perante a melodia poética de sua voz. Apelidaram-na de mulher-poesia, outros a chamavam de poesia-viva, pois era como se ela fosse a encarnação da arte poética. Os pequenos grupos que se reuniam para ouví-la recitar, aos poucos se transformaram em multidões. As recitações levavam as pessoas ao êxtase. Como em um ritual religioso, as almas eram tocadas e as lágrimas irrompiam.

Até que um dia, a mulher- poesia sumiu. As pessoas, sedentas pelas palavras que as extasiavam, chegaram ao desespero. Era como uma crise de abstinência; tremores, calafrios, choro compulsivo, suas vidas se transformaram em um caos. Resolveram então atenuar o sofrimento procurando um substituto às palavras sonoras. Encontraram-nas nos livros. Surpreenderam-se ao encontrar neles todas as poesias recitadas por sua diva. Liam tentando imitá-la. Aos poucos, descobriram que cada um tinha sua maneira própria de interpretar. A aflição foi diminuindo, descobriram que aquele paliativo poderia ser um bom substituto às suas necessidades. Montaram um templo; lá, reuniam-se para recitar poemas; a mulher-poesia foi elevada à categoria de Deusa. Ninguém nunca soube o que aconteceu a ela. Muitos diziam que aquela mulher nunca havia existido, outros diziam que ela havia realmente se transformado em versos e que agora habitava todos os poemas do mundo.

Caindo para sempre

20 de abr. de 2010










Ele sentou-se para descansar, pois estava cansado de brincar. Era criança, mas observador; notou quando uma folha desprendeu-se do galho mais alto da árvore e foi caindo vagarosamente rumo ao chão. Ele esperou a queda... mas a queda não veio. Por algum estranho motivo, a folha nunca chegava ao chão. O menino olhava atônito ao estranho fenômeno, esperando que a folha caísse e não jogasse por terra toda a sua razão, cultivada tão bem pelos adultos. Por todos os dias, meses e estações, ele esteve sentado ali, e a folha continuava caindo. Quando ele morreu, enterraram-no ao pé da árvore. Depois de muitos anos, muitos notaram que não havia uma folha sequer sobre o túmulo, mas ninguém percebeu a folha que insistentemente caía.

O beijo

16 de abr. de 2010











Carlinhos sempre sonhou em beijar os lábios de Cláudia. Mas ela era cruel desde criança, e ficava sempre adiando o dia prometido. Apesar de tudo, o menino nunca desistia e à noite ficava sonhando com seu primeiro beijo, na boca da menina que ele amava tanto. Os anos passaram-se e a crueldade da garota foi aflorada pela adolescência. Seu primeiro beijo não foi de Carlos, nem o segundo, nem o décimo e ela fazia questão que ele soubesse de cada um deles. Mas Carlos tinha o coração cheio de amor por sua algoz e esperava o dia em que ela encostaria os lábios nos seus. Eles cresceram, casaram-se com pessoas diferentes, tiveram filhos, netos, mas a imagem de dona Cláudia nunca saía da cabeça de seu Carlos. Quando ela morreu, todos viram um velhinho se aproximando vagarosamente do caixão. Ele tinha os olhos cheios de lágrimas. Seu Carlos se abaixou, com as dificuldades típicas da velhice e beijou carinhosamente os lábios mortos de dona Cláudia, pela primeira e última vez.

Canteiros

7 de abr. de 2010















Ai que vontade de cantar! Cantou José ao avistar o jardim em rosas no canteiro da Central com floridas árvores rumorando no pomar. E ele viu: luz refletida em cores de sua alma no vermelho apaixonado das rosas desabrochadas. Amor brilhante, perfumes coloridos em música das flores. José viu sorriso, viu esperança e viu João.

João no seu canto, observando triste o triste canteiro, as folhas parecendo caçoar com seu canto do desencanto em seu peito. E ele viu: flores caídas e pisadas, vermelho-sangue das rosas desabrochadas. Desilusão, perfumes nauseantes de músicas fúnebres. Jõao viu José, vil sorriso, vil esperança, vil José.

Pronomes

2 de mar. de 2010










Eu
tenho um dilema:
não saber quem sou,
não saber se sou
prosa ou poema.

Você
que me inspira a ser
você que me inspira
ao ser você que me intriga.

Nós
somos juntos separados,
somados em subtração,
multiplicados e divididos
entre nós desatados.

Volúvel

12 de fev. de 2010











O que hoje é um beijo
amanhã será uma lembrança boa
ou ruim

O que hoje é paixão
amanhã será amor
ou vergonha

O que hoje é amor
amanhã será respeito
ou desilusão.