A Prisão do Espírito
Ao se dar conta de seu estado, o
prisioneiro desejou ser algo mais do que aquilo. Se ele não era seu corpo, nem
seus pensamentos, o que ele poderia ser? Ele imaginou que poderia haver uma
essência, e que essa essência poderia ser livre algum dia. De certa forma já
haviam lhe prometido a liberdade, embora eles a chamassem por outro nome. Agora, que estava acordado, ele
não conseguia entender esse paradoxo. Para se libertar era preciso estar preso às regras.
Foi-lhe ensinado, por forma de
enigmas, que todos estavam presos na grande prisão pelo mesmo crime, que todos
foram julgados pelo mesmo juiz, condenados pelo mesmo júri, mas que somente
poucos se libertariam. Foi-lhe ensinado, também através de enigmas, que corpo e
mente jamais poderiam se libertar. Somente a essência teria esse destino mas
era preciso seguir cegamente as instruções do grande diretor do presídio.
Porém, o prisioneiro não sabia ao certo se o
diretor existia ou não. Como então poderiam ser livres algum dia? Do que adiantava
seguir tão rígidas normas? Essa loucura precisava ter um fim.
O prisioneiro tentou libertar a
alma de seus companheiros, livrando-os de tão ridícula ignorância. A
reação foi a mais violenta possível. Como ele poderia querer os tirar a maior
esperança de liberdade que possuíam? (Embora eles nem soubessem que estavam
presos). Eles tinham fé no administrador de suas vidas. Uma instituição tão grande não poderia funcionar sem um diretor.
Isso era inconcebível.
Como não podia libertá-los de sua suposta ilusão, afinal de contas o prisioneiro tinha dúvidas até de suas próprias dúvidas, ele passou a procurar meios de libertar sua própria essência,
embora ele mesmo tivesse dúvidas sobre sua existência. Pelo menos sobre algo
ele já havia se conformado. O corpo jamais poderia sair daquele
presídio. Ele teria que se conformar em acreditar de que um dia talvez sua
essência se libertasse.
Então, aos poucos, a cela que era
o invólucro de seus pensamentos foi se enfraquecendo, possibilitando a saída do
prisioneiro. Ele finalmente saberia como era a liberdade.
Continua...
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