A
Prisão da Mente
E ele que se
orgulhava tanto de sua racionalidade! Ele julgava conhecer toda a prisão a sua
volta até os mínimos detalhes. Tolo! Ele nem ao menos sabia que estava preso. O
prisioneiro não podia confiar em seus conhecimentos. Agora que estava desperto,
ele via que tudo o que aprendera era para mantê-lo sobre controle. Tudo parecia
ser guiado, como se fosse para a manutenção de um segredo.
Então ele tentou se recordar de
quando tudo havia começado, pois ele imaginava que em determinado momento de
sua vida, sua mente foi aprisionada. A primeira lembrança que ele tinha era a
de seus antigos guardiões, aos quais ele aprendera a chamar por outros nomes.
Naquela época sua mente já estava aprisionada a regras, mas ele sentia que
muito antes disso ela já era prisioneira. Porque tanta injustiça? Já não
bastava ele estar preso corporalmente? A cada dia de sua pena, sua mente era
aprisionada mais e mais a regras físicas e sociais.
Agora que ele ansiava pela
liberdade, pôde perceber que até mesmo seus sentimentos eram uma forma de
aprisionamento, uma forma de controle. Ele lembrou-se da primeira vez em que
sentiu amor. (Ou será que ele tinha sido induzido a sentir)? Ele amou uma
prisioneira. Naquela época ele não sabia que estava encarcerado e tampouco que
todos à sua volta também estavam. Ele sentiu-se imensamente feliz com aquela
sensação, embora às vezes a dor e a tristeza, as quais ele já sabia dar nome,
viessem em companhia do amor que ele sentia (ou julgava sentir).
Primeiro ele amou a cela da prisioneira.
Era um corpo diferente do seu. Uma cela que atraía a sua de uma maneira quase
incontrolável. Depois ele amou a mente da prisioneira e finalmente o espírito.
Como ela também estava alheia à sua situação, logo os dois caíram na armadilha
do carrasco oculto. Juntos, formaram outros prisioneiros. Somente agora, livre
de sua venda psíquica, ele pôde encarar a dura realidade. O amor era um
artifício para a produção de novos prisioneiros. Através dos próprios detentos,
novos encarcerados entravam para a grande prisão.
Aquilo precisava acabar. Sua
mente ansiava por liberdade. Seus pensamentos queriam voar. Ele tentou libertar
a mente dos outros prisioneiros. Mentes presas a um mundo de fantasia. Porém
ele falhou. Todos chegaram à conclusão de que ele havia enlouquecido. O
prisioneiro foi espancado e humilhado por todos.
Quando ele percebeu que não podia
libertá-los da mentira, o prisioneiro dedicou-se a lutar pela liberdade de sua
própria mente. Foi com grande horror que ele descobriu que sua mente também era
prisioneira em seu corpo, o invólucro de seus pensamentos, sua cela.
Seus pensamentos não poderiam se
libertar se ele próprio não se libertasse da prisão infinita. E isso o
desanimou. Ele só podia esperar por justiça. Seria o tempo um juiz justo?
Aos poucos sua cela foi enfraquecendo
e o prisioneiro pôde sair sem culpa. Mas seus pensamentos teriam ido com ele?
Continua...
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