O vento

26 de nov. de 2010












O vento uivando no voo da voz
jogou meus versos na direção contrária da criação.
E zuniu e fodeu as imagens imaginadas.
Um vento voraz de apetite quente,
que inexplicavelmente come palavras.
De ondes vem, vento de fel?
Que sopra meu papel e minha inspiração?

Poema para colorir

21 de nov. de 2010

















É feito de branco
o momento da solidão.

Peccata mundi

18 de nov. de 2010














Pecados
Pesados
Pensados
Ou não
Perdoados
Esquecidos
Permitidos
Em vão
Pecados
Passados
Pousados
No chão
Pisados
Colhidos
Na palma
Da mão.

Rótulos Para Garrafas

28 de out. de 2010














Sempre que digo a alguém que jogo RPG, ouço os mesmos comentários: “Ah, é aquele jogo que mata; é coisa do demônio; dizem que é preciso fazer um ritual de iniciação; se você perder, tem que fazer o que a outra pessoa quiser.” Já ouvi esses e outros comentários igualmente ridículos e ditos até por pessoas instruídas, com nível superior, e até mesmo por professores universitários!

Eu desconheço a visão que as pessoas têm sobre o RPG em outros países, mas aqui, no Brasil, ela é totalmente distorcida e preconceituosa, demonstrando a falta de informação a respeiro do assunto e a alienação provocada pelos meios de comunicação.

O único argumento usado contra o RPG é um pequeno número de assassinatos supostamente influenciados pelo jogo ou como parte de rituais ocorridos durante as sessões (nota aos desinformados:é assim que chamamos as partidas, não tem nada a ver com espiritismo). Posteriormente, foi esclarecido que esses crimes não estavam relacionados ao RPG. Quem quiser, pode ler um artigo a respeito no endereço http://www.daemon.com.br/rpg_inocente.asp. Mas vamos supor que esses crimes tivessem sido realmente influenciados pelo RPG. Demonstrarei que, mesmo assim, esse argumento não é válido para condenar o jogo.

Desde a minha infância, ouço notícias de assassinatos e suicídios influenciados pela música, pelo cinema, pelas religiões e por vários outros segmentos. Muitas dessas denúncias são apenas sensacionalismo ou demonstrações explícitas de preconceito. Mas, infelizmente, acredito que muitas delas possam ser verdadeiras. Ao analisarem os assassinos e o passado dos suicidas, os especialistas sempre descobrem que são pessoas desequilibradas emocional e psicologicamente (pois, afinal de contas, somente alguém com problemas desse tipo se deixaria influenciar por estímulos externos para cometer crimes ou se matar). Acredito que para uma pessoa desequilibrada qualquer coisa possa ser um estímulo para desencadear uma ação violenta: a letra de uma música que acredita ter sido escrita para ele; uma pintura, na qual ele vê uma mensagem oculta, um versículo da bíblia, que acredita ser uma profecia relacionada a ele; são inúmeras possibilidades.

Agora pergunto a vocês: seria justo condenar a música, seja qual for o estilo, e todos os milhões de pessoas que gostam dessa arte por causa de alguns desequilibrados que cometeram crimes influenciados por ela? Seria justo condenar o cinema, as religiões em geral e qualquer outra manifestação humana por causa de casos isolados de loucura? O Role Playing Game é praticado por milhões de pessoas no mundo, seria justo condenar esses milhões de jogadores e o próprio jogo por algum crime que venha a ocorrer influenciado por ele? Como disse antes, qualquer coisa pode desencadear um ato de insanidade, pois não sabemos o que se passa na mente de um louco. Portanto, não devemos julgar o suposto estímulo, seja ele qual for.

Para terminar, gostaria de fazer uma analogia. Quando compramos um produto, principalmente remédios, esperamos que o fabricante especifique bem no rótulo da garrafa a sua fórmula, o modo de fabricação, a embalagem, o uso correto e demais informações importantes; ou seja, esperamos que ele domine totalmente o assunto. Portanto, antes de rotularem o RPG, os seus críticos deveriam buscar informações a respeito, para não divulgarem informações falsas e contraditórias. Os meios de comunicação deveriam ser os primeiros a fazer isso, pois como formadores de opinião, correm o risco de propagar a intolerância e o preconceito, que por sua vez, também são causas de vários crimes e atrocidades.

O presente de Deus

7 de out. de 2010
















Conta-se que, certa vez, perguntaram a um sábio qual seria o destino da humanidade. Ele então contou a seguinte história:
“Depois de ter criado todas as coisas, Deus fez o Homem e deu a ele uma parcela de seu Poder de Criação. Empolgado com o presente divino, o Homem rapidamente pôs-se a criar compulsivamente. Criou utensílios, ferramentas, cidades, máquinas e tudo o mais que tornava a vida mais prática e fácil.

Porém, com o tempo, o Homem percebeu que as coisas mais belas não tinham sido criadas por ele, e sim, pelo Criador Supremo. Então o Homem viu que sua capacidade de criação era ínfima se comparada ao poder de Deus.

Assim, inconscientemente, o Homem havia criado a Inveja e o Orgulho. Munido desses novos sentimentos criados por ele mesmo, o Homem, aos poucos, foi criando outros: o Egoísmo, o Ódio, o Rancor, a Intolerância...

Em pouco tempo, o mundo ao qual ele havia recebido como presente de Deus estava quase destruído e as guerras lançavam irmão contra irmão, destruindo a Humanidade. Quando o Homem se deu conta do ponto a que havia chegado, recorreu ao Pai, implorando seu auxílio.

Deus, então, pediu que ele fechasse as mãos uma sobre a outra, e um brilho começou a despontar por entre os dedos do Homem. Quando ele abriu as mãos, lá estava a Capacidade Criativa que Deus o havia dado. Porém junto a ela, havia mais dois pontos luminosos: a Sabedoria e a Esperança. Os dois brilhos foram aumentando e juntaram-se ao Poder de Criação, formando um novo presente: Deus havia dado ao Homem o Poder de Recomeçar."

Múltipla escolha

29 de set. de 2010













A poesia é:

fuga
música
alegria
dor
insensatez
delírio
luta
ritmo
desejo
fardo
catarse
amor

ou

nenhuma das alternativas acima

Pensamentos filosóficos de uma folha

26 de set. de 2010













Para meu amigo Guilherme Castro

(Algo escrito há muito tempo)


Na próxima encarnação quero ser uma pessoa, um ser humano. Somente eles têm o privilégio de poderem ser felizes. Pelo o que eu saiba, nós, vegetais, não temos consciência da felicidade. Os humanos pelo menos podem tentar alcançá-la.

Não quero ser planta, nem um mero animal, quero ser uma pessoa. Quero sofrer todas as desilusões as quais elas estão sujeitas. Quero amar, sorrir, chorar, crescer com as quedas, me tornar sábio com a idade. Quero arriscar.

Sou apenas o nariz das plantas. As únicas sensações que tenho são o sol, a chuva e o vento que chegam até mim. Posso ser bonita e agradável aos olhos, mas estou presa para sempre ao mesmo galho. Não posso escolher meu caminho. Não posso desviar do sol ou da chuva quando eu quiser. As únicas coisas diferentes que podem acontecer em meu destino são um granizo me rasgar, uma criança me colher ou um passarinho me bicar. Os humanos escolhem seu caminho na medida do possível. Eles podem criar. Ah, como isso seria bom.

Se eu pudesse ser uma pessoa, me contentaria até em ficar triste. Pois estar triste é sinal de que se conhece a felicidade e ser um humano é poder partir em busca dela.
Sim, na próxima encarnação quero ser uma pessoa, um ser humano. Para não precisar que ninguém pense nem escreva por mim.

O dono do mundo

4 de set. de 2010

















E se dissessem:
“Vá, possuas o mundo!”
Ainda assim não saberia tê-lo.
Não caberia em minha mão,
não poderia retê-lo.
Pois o mundo é maior que o mundo.
As almas pesam
e os pensamentos.
Não poderia carregá-los em minhas costas,
já tenho muito peso.
Se eu tivesse o mundo,
devolveria-o a ele mesmo.

Último ato- cena única

30 de ago. de 2010















Não sou Romeu nem Hamlet
Nem trágico nem representável
Minhas palavras são secas e isentas de dramaticidade
Nunca tive graça alguma
Sou buritizeiro seco sem frutos de qualquer espécie
Minha foto é uma paisagem do cerrado
Meu romantismo vai até onde minha razão se impõe
E minha razão é minha inimiga
Aliada do tempo
Sou duro como um poema de Melo Neto
Estou entre Ramos e Rosa
Nem um nem outro
Decido o que minha indecisão decide
Às vezes enxergo o que imagino ser real
Às vezes enxergo apenas o que imagino
Ontem, o ontem aproximou-se e disse-me umas verdades
Que há muito tempo eu não queria ouvir
Fui obrigado a concordar com o sermão
As palavras fixaram-se em minha mente como um encosto
E elas sopram todos os dias em meu ouvido
O seu veneno de realidade
Nunca fui Macário e nem tampouco Fausto
O demônio nunca foi meu companheiro
Falta eloquência e verdade em minhas palavras
Meu paraíso não tem flores meu inferno não tem chamas
Mas às vezes gosto de gritar
Apenas para ouvir o silêncio em resposta
O que dizem de mim não é o que dizem de mim
E eu percebo o que não foi dito
O reflexo no espelho não me diz nada
Eu não sou a imagem de mim que penso ver
Eu não sou a personalidade que penso ter
Não sou por dentro nem por fora
Tenho acesso aos dois lados da notícia
O lado que é mentira
E a mentira que se tornou verdade
Por isso não enxergo nada à minha frente
Prefiro ver o interior
Onde a realidade está encarcerada com correntes cegas
Enferrujadas pelo tempo
Não sou Próspero nem Miranda
Minha tempestade vem sem que eu a invoque
Não vi apenas o mundo de Caliban
Nem tampouco Caliban no mundo
Termino o que faço não por vontade própria
Mas sim por que tudo precisa terminar
O fim é inevitável
Talvez não necessário
Mas como saber
Se agora é o fim
Apenas deixo como registro
As minhas verdades as quais eu próprio não acredito
E as possíveis definições vazias
De tudo o que eu não sou.

Presença da morte

16 de ago. de 2010













Retratos, teias de aranha.
Poeira, frestas diáfanas,
portas semi-abertas
( ou semi-fechadas)?
Nos retratos, olhos que olham pro nada.
Cheiro de flores, sem flores.
Sombras imóveis
silêncio
e no meio da sala
eu